sábado, dezembro 14, 2019

Ano A 3º Domingo do Adento


Ano A – III DOM do Advento - Gaudete
«NO MEIO DE VÓS ESTÁ ALGUÉM QUE NÃO CONHECEIS»

A liturgia do terceiro domingo do Advento é centrada no tema da alegria. De facto, a Igreja tradicionalmente chama ao terceiro domingo do Advento, domingo da alegria ou domingo Gaudete.
A cor litúrgica sugerida para este dia diz também a sua peculiaridade no todo do ano litúrgico. Neste sentido, toda liturgia ganha uma unidade: leituras, evangelho, orações em redor desta atitude e bem-aventurança bíblica: Alegrai-vos!
O episódio evangélico de hoje, (na realidade este domingo poderemos ler dois textos do evangelho) continua a orientar o nosso caminho em direcção ao Natal que se faz sempre mais próximo.
O evangelho deste domingo, do primeiro capítulo do evangelho de João, ajudar-nos-á a descobrir quem é Jesus e o perfil e traços do Evangelizador.

Evangelho segundo São João (1, 6-8.19-28)
Apareceu um homem enviado por Deus, chamado João. Veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditassem por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. Foi este o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram, de Jerusalém, sacerdotes e levitas, para lhe perguntarem: «Quem és tu?» Ele confessou a verdade e não negou; ele confessou: «Eu não sou o Messias». Eles perguntaram-lhe: «Então, quem és tu? És Elias?» «Não sou», respondeu ele. «És o Profeta?». Ele respondeu: «Não». Disseram-lhe então: «Quem és tu? Para podermos dar uma resposta àqueles que nos enviaram, que dizes de ti mesmo?» Ele declarou: «Eu sou a voz do que clama no deserto: ‘Endireitai o caminho do Senhor’, como disse o profeta Isaías». Entre os enviados havia fariseus que lhe perguntaram: «Então, porque baptizas, se não és o Messias, nem Elias, nem o Profeta?» João respondeu-lhes: «Eu baptizo em água, mas no meio de vós está Alguém que não conheceis: Aquele que vem depois de mim, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias». Tudo isto se passou em Betânia, além Jordão, onde João estava a baptizar.

Apareceu um homem enviado por Deus, chamado João. Veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditassem por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz.

Estamos a ler o início do Evangelho de São João, o famoso prólogo, que aparece neste momento interrompido por estes dois versículos que nos falam de João Baptista. Um texto onde cada palavra ganha um significado especial. “João”, isto é, “Deus é amor misericordioso”. João o maior entre os filhos de mulher (Lc 7,28) é apresentado como testemunha, prova evidente (em grego “martyrian”). Testemunha da luz (em grego “fotos”: fogo, chama, luz espiritual).

O testemunho de João é neste contexto muito sugestivo. Ele testemunha com a sua vida, com todo o seu ser, a partir até do seu próprio nome que Deus é amor misericordioso. Ele é uma testemunha, aquele que faz experiência na própria pele, aquele que dá o devido protagonismo a quem o merece. Jesus é quem indica a verdade, é quem ilumina o caminho no meio da escuridão. João neste contexto interpela-nos a sermos testemunhas, aquelas testemunhas que ensinam com a vida, com o exemplo, tal como Paulo VI pedia aos cristãos do mundo inteiro: "O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres” (EN 41).

Foi este o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram, de Jerusalém, sacerdotes e levitas, para lhe perguntarem: «Quem és tu?» Ele confessou a verdade e não negou; ele confessou: «Eu não sou o Messias».

«Quem és tu?»: «Eu não sou o Messias». Eis a identidade de João: alguém que suscita admiração, alguém que suscita interrogações… mas alguém sobretudo que indica a verdadeira estrada, que indica a luz a seguir.

João interroga a sociedade do seu tempo, suscita curiosidade, suscita inquietação. A sua vida, o seu testemunho não deixa ninguém indiferente, ao ponto de lhe perguntarem: «Quem és tu?». É uma pergunta dirigida também a cada um de nós. Quem sou eu? Que a resposta de João Baptista: “Eu não sou o Messias”, o enviado, o esperado, o Salvador, nos ajude também a descobrir a nossa identidade, a redescobrir a nossa vocação, a pôr em marcha a missão que o Senhor nos pede. Quem somos, para onde caminhamos, o que fazemos neste nosso existir?

Eles perguntaram-lhe: «Então, quem és tu? És Elias?» «Não sou», respondeu ele. «És o Profeta?». Ele respondeu: «Não».

«És Elias?», «És o profeta?». “Elias” e “o Profeta” representam personagens ansiosamente esperadas pelo povo judeu, mas João não é nem um nem outro. Revela-se alguém inesperado. O “não” de João clarifica a sua identidade. Ele sabe bem quem é, qual a sua missão, mas é uma identidade que interpela com a vida, com os gestos. Não fala dele próprio, de si mesmo. A vida é toda em relação a ELE, isto confunde-os e ao mesmo tempo interroga-os.

Isto também nos a dá a nós que pensar… João interpela com a vida, não é que esteja preocupado por dizer quem seja, o que venha fazer, quem o enviou. Ele não quer ser protagonista, ele apenas indica. Isto certamente interpela-nos, interroga-nos sobre o verdadeiro lugar que ocupe Deus na nossa vida. Somos interpelados por Deus? Deixamo-nos interpelar por Deus? Que significado tem o amor de Deus nas nossas vidas?

Disseram-lhe então: «Quem és tu? Para podermos dar uma resposta àqueles que nos enviaram, que dizes de ti mesmo?» Ele declarou: «Eu sou a voz do que clama no deserto: ‘Endireitai o caminho do Senhor’, como disse o profeta Isaías».

A desorientação dos seus interlocutores é grande: tal como as pessoas que não têm fé e ficam desconcertadas, confusas com o agir de João Baptista. Assim, o percursor aos que procuram ainda saber quem seja apresenta-se com um texto de Isaías: “Voz do que clama no deserto”. Ele não é a luz, mas só a lâmpada que arde (Jo 5,35) que testemunha a verdadeira luz. Ele não é a Palavra encarnada, mas só a voz que prepara o caminho da conversão.

Ser instrumento, pôr-se à disposição, emprestar a sua vida como testemunho. “Eu sou a voz”, voz que é passageira, a palavra ao contrário permanece. Maria foi também esta voz que testemunhou com o seu sim a Palavra encarnada. E eu em que lugar me coloco: sou luz ou lâmpada? Sou porta-voz de Deus ou palavra gasta?

João é um incompreendido: não param de fazer-lhe perguntas. Denota por um lado que a sua vida era realmente interpelante, estranha, esquisita, mas ao mesmo tempo suscita um interesse especial que não deixa ninguém indiferente. Sacerdotes, levitas, fariseus, todos acudiram a João para saber quem fosse.

O testemunho de João é perseverante, é centrado em Jesus. Ainda que abundem incompreensões, perseguições, João escolhe preparar o caminho do Senhor. Preparar caminhos para que Ele passe, para que Ele chegue, para que Ele entre na nossas vidas, nas nossas cidades, no nosso mundo. João não se sobrepôs, mas fez-se instrumento. Eis mais um desafio à nossa vida, ao nosso caminho: ‘Endireitai o caminho do Senhor’

João respondeu-lhes: «Eu baptizo em água, mas no meio de vós está Alguém que não conheceis: Aquele que vem depois de mim, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias». Tudo isto se passou em Betânia, além Jordão, onde João estava a baptizar.

“Está no meio de vós está Alguém que não conheceis” eis o grande anúncio de João, o reino de Deus está aqui. “Betânia” ou “Betabara” significa casa da passagem ou casa da preparação, transfigura este caminho. Ele foi chamado a preparar, a anunciar.

João prepara o caminho, anuncia, é o precursor, mas anuncia uma realidade que vive e acredita. No meio de vós está alguém! Eis a grande certeza que não nos pode deixar indiferentes, a grande notícia que muda as nossas vidas, o grande anúncio que muda o rumo da história. João anuncia “alguém”, toca a cada um de nós descobri-lo, encontrá-lo, acolhe-lo, este alguém conta com o nosso sim, a nossa vida, conta connosco. No Natal que agora se aproxima Jesus far-se-á novamente presente no meio de nós. A sua Palavra por isso nos interpela novamente. Alegrai-vos!

Oração

Obrigado Senhor pela tua presença no meio de nós!
Eis o motivo da nossa alegria, da nossa esperança.
Obrigado por tudo,
Pelas luzes, pelas sombras,
Pelo amor e as traições
Pela vida, pela dor
Que em ti nos ajudam a descobrir sempre melhor o teu Amor.

Acção


Como posso preparar este encontro assim tão especial? Talvez seja de novo uma boa ocasião para encontrar-me com o Senhor no sacramento da reconciliação.



domingo, dezembro 01, 2019

Advento - Tempo de Esperança


 Eis que chega o tempo da esperança, da preparação, da vigilância. Para que o nosso coração se enriqueça desta certeza: Deus vem. O Senhor vem ao nosso encontro. Para que a nossa vida se inunde de um amor grande: Deus connosco, Emanuel. Para que o nosso ser seja plenamente enriquecido da graça da presença de um Menino que para nós é tudo. Vigiemos, portanto. Vivamos atentos. Preparemos todo o nosso interior para a chegada de Deus!
Estamos a começar o Advento. É um tempo para preparar o Natal. Ele é para todos, porque o Natal é também para todos.

O Advento é o tempo da esperança verdadeira. O Tempo em que Jesus Se encontra com cada um de nós e mostra a bondade do Pai. Mas há muita gente que não consegue ver esta verdade poderosa. Para ver Deus que Se revela é preciso ter o coração dos pequenos, o coração puro, capaz de se abrir à LUZ.
A caminhada da preparação para o Natal não é mais um adorno exterior, porventura até enriquecedor da liturgia do tempo, mas uma ocasião fundamental para darmos um ou mais passos para a frente. É um Tempo para aprender a esperar Deus que vem ao nosso encontro. Mas como se faz para preparar um encontro com Deus? A Palavra de Jesus é clara: "Há que acordar!" Que estar praparados para a mudança. Acima de tudo, há que despertar o coração. Às vezes, temos o coração pesado demais. Preocupações, desilusões, enganos, falsos deuses, valores insignificantes...há muita coisa a tornar pesado o nosso coração. E vivemos, como que anestesiados. Sem capacidade de reagir com entusiasmo e energia diante de um acontecimento inesperado.

O Advento é como uma obra de engenharia. É um tempo para avaliar a qualidade do terreno sobre qual construímos a nossa casa, a nossa vida.
Temos coragem de escavar mais fundo, à procura da rocha verdadeira que é CRISTO? Ou contentamo-nos com terrenos frágeis, sempre instáveis e movediços, incapazes de dar solidez e dignidade ao nosso futuro? Escavar em profundidade não é só escutar a Palavra de Deus: é pô-la em prática! Transformá-la em gestos concretos
 É importante, por isso, que toda a comunidade cristã (crianças, adolescentes, jovens e adultos), individualmente e em grupo, se empenhe neste processo. O Natal não é o passado histórico, celebrado de forma mais ou menos romântica e folclórica, mas é o presente da fé comprometido com o futuro esperado e possível. DEUS não é o passado: É o hoje e o amanhã.

O Advento oferece-nos dias de graça especial. Esta certeza deve animar a esperança aos discípulos, sobretudo em momentos de alguma confusão ou dispersão. Esperamos porque sabemos em quem colocamos a nossa confiança, porque estamos a preparar os caminhos de uma vinda que já há muito começou. Esperamos porque sabemos Quem vem ao nosso encontro. Desejar este encontro com o Senhor converte-se em urgência de vida, lança-nos na luta pelo que desejamos, e isso é Advento… Renovemos a consciência de nos inscrevermos na multidão daqueles que escutaram uma palavra que lhes falava do futuro… e acreditaram. Abraão, Moisés, Zacarias, Maria, José, Pedro e tantos outros. Deus vem ao nosso encontro, em amor e misericórdia, para recriar um Povo de coração novo.

Vamos procurar  contemplar as atitudes de Maria, a mulher que acolheu livre e plenamente a Palavra de Deus. Através dela, Deus deu ao mundo o Salvador. Meditemos na sua atenção à Palavra de Deus, na sua disponibilidade em acolher o plano salvífico de Deus para a humanidade, na sua humildade e confiança no Senhor, na sua atitude de serva. Façamo-nos acompanhar por Ela neste advento ao longo do qual Deus também nos convida a dar “espaço” em nós ao amor que encarna.

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