sábado, setembro 29, 2012

Pedro e o Catequista



Hoje gostaria de vos falar de S. Pedro.
É um personagem fantástico. Tão cheio de contradições, de entusiasmo e de debilidade. Tão apaixonado pelo Senhor. Tão capaz de O trair. Tão... como nós!
Mas na hora da verdade, na hora do amor, Pedro correspondeu à sua vocação: ser firme. Ser Pedro-Pedra. Firme como uma rocha.
Mas Pedro era também um pescador, um homem que sabia apanhar o melhor dos ventos e das correntes para ir ao encontro do seu Senhor.
Precisamos deste exemplo na nossa vida de fé e neste serviço de iniciarmos outros na fé. Precisamos de aprender com ele a ser flexíveis no acessório mas firmes no essencial. Capazes de dar o primeiro passo. Capazes de chorar, quando descobrimos que nos enganámos.
Esta "nova era" o tempo das identidades débeis, onde nada é seguro nem definitivo. Onde não há bem nem mal, nem vontade nem amor. Apenas instante efémero e "apetece-me".
Ao lado de Pedro, assumindo todas as nossa traições, dizemos
"Tu sabes, Senhor, que te amo". E na certeza de sermos amados por Ele, sentimo-nos firmes. E, por isso, capazes de dar solidez e firmeza a outras vidas.

Pedro: "Sobre esta pedra edificarei a minha igreja"
Simão, mais conhecido por Pedro, antes de se tornar um dos doze discípulos de Jesus, era pescador. Como tantos outros pescadores, habituado nas expedições de pesca às redes cheias e às redes vazias, alimentava sonhos de uma vida melhor e mais feliz para todos.

Um pescador que encontou novos mares
É neste cenário que surge Jesus. Segundo o relato de Lucas (Lc 5, 1-11). Pedro conheceu Jesus quando este lhe pediu para usar o seu barco, de forma a poder pregar a uma multidão de gente que O queria ouvir.
Pedro, que estava a lavar redes, emprestou-lhe o barco. No final da pregação, Jesus disse a Simão Pedro que fosse pescar de novo em águas mais profundas. Pedro responde que tentara em vão pescar durante toda a noite e nada conseguira mas, em atenção ao seu pedido, fá-lo-ia. Eis o resultado: "Assim fizeram e apanharam uma grande quantidade de peixe. As redes estavam a romper-se, e eles fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco, para que os viessem ajudar. Vieram e encheram os dois barcos, a Ponto de se irem afundando" (Lc 5, 6-7).
Numa atitude de humildade, verdade e espanto, Pedro prostra-se aos pés de Jesus e diz: "Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador" (Lc 5, 5-8). Jesus encorajou-o: "Não tenhas receio; de futuro, serás pescador de homens" (Lc 5, 10).

fé de Pedro em Cristo
"E, depois de terem reconduzido os barcos para terra, deixaram tudo e seguiram Jesus" (Lc 5, 11).
No grupo dos discípulos, Pedro torna-se o porta-voz, como no episódio da transfiguração. Assim que Jesus coloca uma pergunta, Pedro é o primeiro a responder.
O momento mais conhecido é quando Jesus pergunta aos seus discípulos quem é que as pessoas dizem que seja o filho do homem. Pedro apresenta a conclusão: "Tu és o Messias, o filho de Deus vivo" (Mt 16,16). Jesus louva-o pela resposta: És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sanhue que to revelou, mas o meu pai que está no céu. Também eu te digo:
Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja" (Mt 16, 17-18).
Pedro reconhece o mistério de jesus e acredita nele como o Mesias e filho do Deus vovo, e vai tornar-se rocha-pedra para a igreja inteira.

Ser "rocha" para os outros
Na Bíblia, "rocha" signufica solidez. Deus é descrito como a "rocha que nos sustém". Mas Pedro, a "rocha" da igreja, terá que fazer um longo caminho de amadurecimento, até se tornar rocha para os outros.
Quando Jesus fala da sua morte vilolenta, eis que Pedro, impulsivamente, O chama à parte e O repreende: "Deus te livre, Senhor! isso nunda há-de de acontecer! (Mt 16, 23). Pedro recebe de Jesus uma amarga resposta: "Afasta-te, Satanás! tu és para mim um estorvo, porque os teus pensamentos não são os de Deus, mas os dos homens!" (Mt 16, 23)
Pedro terá que viver a experiência da Morte e da Ressureição de Jesus para compreender todo o alcance da vida e das palavras de Jesus e reconhecer o alcance da missão que Jesus lhe confiou. E nesses momentos decisivos da vida de Jesus, Pedro fica muito aquém das expectativas, chegando mesmo a afirmar: "Não conheço esse homem!" (Mt 26, 72)

A força do amor
No entanto Pedro, mesmo no meio da dor causada pala ausência de Jesus e pela sua falta de lealdade, não desespera. E eis que Jesus, lhes vem ao encontro, no mesmo mar que tinham antes abandonado para O seguir.
Depois da refeição Jesus pergunta três vezes a Pedro: "Simão, filho de João, tu amas-me mais do que estes?". Pedro responde, afirmando solenemente o seu amor: "Sim, Senhor, Tu sabes que eu te amo". Mas quando Jesus lhe perguntou pela terceira vez Pedro ficou triste e respondeu~lhe: "Senhor, tu sabes tudo; tu bem sabes que eu sou deveras teu amigo!"
Claramente, a tripla pergunta de Jesus recorda a Pedro a sua tripla traição.
Nesse momento, Pedro não se desculpa: deixa que Jesus olhe para os desejos mais profundos do seu coração... ele acredita no facto que Jesus reconhecerá o verdadeiro amor que nutre por ele.
É a este "novo" Pedro, reconciliado e curado das suas feridas, que Jesus confia a sua comunidade: "Apascenta as minha ovelhas!" (Jo 21, 17)

Na escola do Evangelho
A história de Simão Pedro mostra que também nós, podemos tornar-nos rocha para os outros, apesar das nossas cobardias e fraquezas. Como será isto possivel?
Se nos entregamos ao caminho de transformação que os Evangelhos nos mostram em Simão.
Fica então um convite a meditar os diferentes textos citados.
Se como Pedro reconhecermos quem é Jesus, então também nós poderemos ser "rocha" para os outros.

Vídeo: Eis-me Aqui!

quinta-feira, setembro 06, 2012

Comunicação na educação


Um sapo que era príncipe

inspiro-me numa conhecida versão do conto de fadas O Príncipe Sapo para vos falar sobre a comunicaçâo na educação.
  Era um Vez uma princesa que, passeando um dia junto a um lago do seu jardim, deixou cair à água uma bolinha de ouro. Enquanto olhava aflita para a água sem saber o que fazer, eis que surge um sapo feio à superficie com uma solução: "Eu recupero a tua joia se me convidares para o teu palácio e me deixares lá viver como um príncipe!".
Sem reflectir no que se metia, a princesa disse a tudo que sim ao sapo. Este mergulhou imediatamente e reapareceu logo a seguir com a bola de ouro na boca. Ainda incrédula, a princesa corre para o palácio com a joia, esquecendo por completo o que acabara de prometer. Já à mesa, batem à porta de forma estranha. Um criado espantado vem anunciar que é um sapo a reclamar o cumprimento de uma promessa da princesa. Ela acaba por contar tudo ao pai que a obriga a satisfazer integralmente o compromisso. Depois de uma boa refeição à mesa do rei, o sapo é conduzido aos seus aposentos principescos e eis que se quebra um malvado feitiço: o sapo feio transforma-se num belo príncipe.
É de novo Setembro e as escolas, as catequeses, assim como outras instituições educativas, são de novo tomadas por multidões fervilhantes de crianças e de jovens.
Nos olhos dos mais pequenos há brilhos intensos de bem e de verdade, de expectativa e de ilusão. As suas mochilhas e almas adivinham-se cheias de razões de viver: coisas novas para aprender, coragem e atrevimentos para experimentar, alegrias e confiança para partilhar. Têm mesmo alma de príncesas  e de príncipes! No entanto no rosto dos mais crescidos já se vislumbram imensos olhares baços de abatimento, de cansaço e desilusão. Em demasiadas mochilas e almas encontra-se pouco das grandes razões de viver; para o futuro há só uns quantos estratagemas de sobrevivência ainda em luta, já perdida, com passados de medo e de fracasso. Muitos quase parecem sapos.
Quebrar o feitiço
Educadores e educandos, estamos todos a precisar de um toque mágico eficaz, daquela magia de que só o ser humano é capaz. Comecemos por nós. Não importa quanta bruxaria se tenha reunido no passado para levar a cabo o feitiço de nos transformar em sapos. Como educadores, somos os primeiros a necessitar de uma metamorfose de alma.
Por mais que custe, o primeiro trabalho da nossa alma é convencer-se que também ela nasceu princesa ou príncipe. O segundo trabalho, não menos urgente e imprescindível, é recuperar-se inteiramente como alma. Os educandos precisam de toda a nossa alma transformada e da alma de todos. Se não o conseguirmos, não passaremos de seres aparentementes mais evoluídos a tentar aperfeiçoar vidas de outros seres aparentemente menos evoluídos. Tanto em nós próprios como nos outros, a nossa profissão e missão não é disciplinar sapos, mas recuperar os príncipes e princesas que eles encobrem. Todos os Setembros dão início a uma nova época alta para esta missão mágica. Para tal são necessários certos ingridientes, também eles mágicos:

Cada pessoa é positiva em si mesma.
Todos, tanto educadores como educandos, somos dotados de valor e dignidade enquanto pessoas. Usamos a liberdade para estar de acordo e para discordar de ideias e comportamentos, mas nunca para nos rejeitarmos como pessoas.

Cada pessoa é capaz de pensar e decidir por si própria.
Salvo se tivermos algum dano cerebral, todos somos capazes de pensar por nós próprios. Por isso, cada um de nós é que decide a própria vida, carregando consigo as consequências das decisões tomadas.

Cada pessoa é capaz de amar e precisa de ser amada.
Precisamente porque é essencialmente constituída por liberdade e por amor, uma natureza humana degradada só pode ser recuperada através de actos conscientes de liberdade e de amor. Além disso, para viver, a alma precisa tanto de apreço como o corpo precisa de sangue. É do apreço genuíno e recíproco que nascem e renascem continuamente príncipes e princesas; do desprezo apenas nascem sapos.


Vídeo: Uma grande viagem 



Arménio Rodrigues
Arménio Rodrigues