Um sapo que era príncipe
inspiro-me numa conhecida versão do conto de fadas O Príncipe Sapo para vos falar sobre a comunicaçâo na educação.
Era um Vez uma princesa que, passeando um dia junto a um lago do seu jardim, deixou cair à água uma bolinha de ouro. Enquanto olhava aflita para a água sem saber o que fazer, eis que surge um sapo feio à superficie com uma solução: "Eu recupero a tua joia se me convidares para o teu palácio e me deixares lá viver como um príncipe!".
Sem reflectir no que se metia, a princesa disse a tudo que sim ao sapo. Este mergulhou imediatamente e reapareceu logo a seguir com a bola de ouro na boca. Ainda incrédula, a princesa corre para o palácio com a joia, esquecendo por completo o que acabara de prometer. Já à mesa, batem à porta de forma estranha. Um criado espantado vem anunciar que é um sapo a reclamar o cumprimento de uma promessa da princesa. Ela acaba por contar tudo ao pai que a obriga a satisfazer integralmente o compromisso. Depois de uma boa refeição à mesa do rei, o sapo é conduzido aos seus aposentos principescos e eis que se quebra um malvado feitiço: o sapo feio transforma-se num belo príncipe.
É de novo Setembro e as escolas, as catequeses, assim como outras instituições educativas, são de novo tomadas por multidões fervilhantes de crianças e de jovens.
Nos olhos dos mais pequenos há brilhos intensos de bem e de verdade, de expectativa e de ilusão. As suas mochilhas e almas adivinham-se cheias de razões de viver: coisas novas para aprender, coragem e atrevimentos para experimentar, alegrias e confiança para partilhar. Têm mesmo alma de príncesas e de príncipes! No entanto no rosto dos mais crescidos já se vislumbram imensos olhares baços de abatimento, de cansaço e desilusão. Em demasiadas mochilas e almas encontra-se pouco das grandes razões de viver; para o futuro há só uns quantos estratagemas de sobrevivência ainda em luta, já perdida, com passados de medo e de fracasso. Muitos quase parecem sapos.
Quebrar o feitiço
Educadores e educandos, estamos todos a precisar de um toque mágico eficaz, daquela magia de que só o ser humano é capaz. Comecemos por nós. Não importa quanta bruxaria se tenha reunido no passado para levar a cabo o feitiço de nos transformar em sapos. Como educadores, somos os primeiros a necessitar de uma metamorfose de alma.
Por mais que custe, o primeiro trabalho da nossa alma é convencer-se que também ela nasceu princesa ou príncipe. O segundo trabalho, não menos urgente e imprescindível, é recuperar-se inteiramente como alma. Os educandos precisam de toda a nossa alma transformada e da alma de todos. Se não o conseguirmos, não passaremos de seres aparentementes mais evoluídos a tentar aperfeiçoar vidas de outros seres aparentemente menos evoluídos. Tanto em nós próprios como nos outros, a nossa profissão e missão não é disciplinar sapos, mas recuperar os príncipes e princesas que eles encobrem. Todos os Setembros dão início a uma nova época alta para esta missão mágica. Para tal são necessários certos ingridientes, também eles mágicos:
Cada pessoa é positiva em si mesma.
Todos, tanto educadores como educandos, somos dotados de valor e dignidade enquanto pessoas. Usamos a liberdade para estar de acordo e para discordar de ideias e comportamentos, mas nunca para nos rejeitarmos como pessoas.
Cada pessoa é capaz de pensar e decidir por si própria.
Salvo se tivermos algum dano cerebral, todos somos capazes de pensar por nós próprios. Por isso, cada um de nós é que decide a própria vida, carregando consigo as consequências das decisões tomadas.
Cada pessoa é capaz de amar e precisa de ser amada.
Precisamente porque é essencialmente constituída por liberdade e por amor, uma natureza humana degradada só pode ser recuperada através de actos conscientes de liberdade e de amor. Além disso, para viver, a alma precisa tanto de apreço como o corpo precisa de sangue. É do apreço genuíno e recíproco que nascem e renascem continuamente príncipes e princesas; do desprezo apenas nascem sapos.
Vídeo: Uma grande viagem
Arménio Rodrigues
Arménio Rodrigues
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