«Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos céus:»
Pobres, na língua hebraica, são os oprimidos, incapazes de resistir ou de se defenderem contra os poderosos.
As bem-aventuranças são uma mensagem de felicidade de Jesus que está em oposição com aquilo que se faz, e que se vive na sociedade. Fala-se de pobreza de coração e corremos atrás da glória; fala-se de mansidão e sofremos a lei do mais forte.
Bem-aventurados os pobres em espírito, mostra que não se trata de uma pobreza em sentido de indigência, mas de uma disposição espiritual. O espírito de pobreza é efectivamente uma atitude espiritual de humildade, de paciência. Os discípulos são prevenidos contra o perigo do orgulho e da auto-suficiência tão criticados por Jesus aos Fariseus.
Esta primeira bem-aventurança, ditada por Jesus, -Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus – é fundamental para viver todas as outras. Ser pobre em espírito é ser simples, sem pretenção, sem orgulho. O pobre em espírito conhece os seus limites perante Deus e perante os homens e espera tudo da misericórdia e do amor de Deus. É o amor que o move em tudo o que faz e não o desejo de se mostrar ou de receber qualquer benefício. O pobre em espírito é humilde.
Jesus não ensina aos que são oprimidos física, moral ou até espiritualmente a revoltarem-se contra os seus opressores, mas a manterem-se diante de Deus como filhos muito amados do Pai. Para Jesus a felicidade não está na abundância dos bens materiais, ou honra e poder. Para Jesus a verdadeira felicidade reside no espírito de pobreza. Para Jesus, felizes são os que, estando em estados de pobreza, não se impacientam, não têm inveja nem ciúmes dos outros, mas põem toda a sua confiança em Deus.
Felizes são também os que tendo bens, honras ou poder não se apegam a eles, mas se preocupam com os que os rodeiam.
Senhor Jesus, dá-me um coração de pobre, um coração humilde que tudo espere de Deus. Concede-me, Senhor, a capacidade de olhar para os que me rodeiam sem desejar o que lhes pertence. Dá-me um coração não endurecido, nem viciado, mau, interiormente dominado pelo desejo de possuir, pelo desejo do poder, nem pelo desejo de dominar. Livra-me de um coração que se esqueça de Deus e seja ávido de se apropriar do bem dos outros. Dá-me um coração de carne e não um coração de pedra. Um coração sensível à infelicidade e sofrimento do meu semelhante e que se lhe abra na partilha do que tenho e do que sou.
Um comentário:
O Sermão do Monte é a plataforma do Reino de Deus na Terra. Não é tão simples segui-lo. Para obedecer, por exemplo, os Dez Mandamentos, é necessário reprimir as nossas más-tendências, como adulterar, furtar, ambicionar, matar. Entretanto, para obedecer ao Sermão do Monte é preciso mais que reprimir más inclinações. Reprimir é sempre um bom começo. Há tendências psicológicas que aconselham a catarse, mas um seguidor de Freud, Maslow, era favorável a que nós sublimássemos nossos impulsos. Considerava que não deveríamos ser escravos da instintividade. Desse modo, felizes os humildes. Pobre de espírito não é ser ignorante ou fraco de caráter, como é comum se dizer: “coitado, é um pobre de espírito”. Pobre em espírito é o verdadeiramente humilde. Jesus também agradeceu a Deus por ter revelado os temas mais sublimes coisas aos simples e por fazê-los velados aos sábios e orgulhosos. Ser pobre do ponto de vista psicológico é considerar-se sempre necessitado. Para quem é verdadeiramente pobre em espírito tudo é bem recebido. Nada lhes é demais. O orgulhoso é aquele que cobra da vida. Já disse alguém que ninguém é tão rico não tenha necessidade de nada e que ninguém é tão pobre que nada tenha para oferecer. Os pobres em espírito são também chamados também de “pobres de Deus”. Assim eles oram: “Senhor, Aumenta-nos a fé”, “Jesus, filho de Davi, tenha piedade de nós”, “Senhor, salva-nos, pois perecemos”, “Creio, Senhor, vêm em socorro de minha pouca Fé”. Jesus abençoa aqui não espíritos puros, mas espíritos humildes e arrependidos como o publicano, cuja prece é também a de um pobre: “Senhor, apieda-te de mim, que sou um miserável pecador.” Estes pobres em espírito acreditam que tudo é doação, é dádiva extra. As coisas, as amizades, o emprego, o ser atendido em último lugar, o receber uma esmola, a ajuda de um estranho. Em tudo ele vê uma graça de Deus. Sente-se sempre devedor da vida. O seu prêmio é o Reino do Espírito. Para o orgulhoso, o opulento em espírito, tudo lhe parece ser devido. As coisas, as amizades, as informações, os primeiros lugares, as honras, as prioridades, tudo parece um direito natural. Se não podem ser atendidos rapidamente, irritam-se. Se não recebem honras, indignam-se. Facilmente se ofendem. São pessoas de difícil relacionamento. Poucos conseguem agradá-las. Querem pressa e perfeição para tudo, sentem-se sempre credoras diante da vida. O prêmio deles é o mundo! Pobre é o pobre de desejo, de ambição, pobre de ilusões, de exigências, pobre do Ego. Ele é bem aventurado! Ele é feliz! Ele é bem sucedido espiritualmente, mesmo sentindo-se dependente de Deus.
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